
Releio esse poema que vou postar e o sentimento saudosista brota novamente em meu peito. Essa vida nossa hoje é tão corrida que às vezes penso que não fui eu quem viveu isso tudo. Foi há muito, muito tempo, parece-me que foi há 50 anos atrás. Tenho vontade de viver isso tudo um pouco mais, entretanto é tarde, muito tarde, o que se foi "é ido", não volta mesmo.
Tenho vontade de voltar à minha Lajinha e ver como está hoje, o que mudou naquelas ruas de paralelepípedo que tantas vezes corri descalço cidade a fora, só de shorts e muita disposição. Bicicletinha GaloCross, isso mesmo Galo, não era Caloy não pois era cara, mas era até cromadinha, com manche amarelo, bonita até. Andei demais, caí demais, vivi bastante. Quero ver a Igrejinha, quero ver a Praça, que tinha uma sorveteria do lado, com sanduíche "Americano" pois não gostava de queijo, nem hamburguer, bala Ice Kiss com mensagem para compensar um pouco da timidez.
Ai, queria muito ver o Carnaval, o Cheira-Cheira, meu amado azul e branco, o Mé de verde e rosa, a águia do Kenedy de vermelho e branco. Participar do ateliê, ajudando a fazer as roupas e adereços, ajudando quase nada, mas tentava.
Saudades dos amigos.
Em termos de saudosismo sou pior que muita gente, sou saudosista do que não vivi até mais do que o que vivi. Tenho saudades de ver minha vó dançando rancheira, quando ainda era adolescente. Saudades de ver minha mãe passando à pé, lá da "feirinha" até o Estela Matutina, lá em Nanuque, saudades.
Ai Saudades, ô bicho marvado.
Esse poema em primeiro lugar é homenagem à Lajinha, em segundo a meu pai que sempre amou aquele lugar e a quem devo um pouco dessa vontade de escrever. Homenageio os velhos amigos que nunca mais vi, mas que ajudaram a construir minha vida.
Caipirão (À Lajinha)
Ê Gonzaga, saudades de ti Luiz.
Tô aqui, escuto Asa Branca,
Lembro da minha terra.
Terra que não verei, nem ninguém verá.
A fazendinha,
Cheia de galinha cocá.
Bichinha danada,
Teimando em me despertar.
Fazendão,
Café em plantação.
Verdim, vermelhim.
Lavrador a colher,
Criançada a correr.
Secagem no terreirão.
À noite forrozão.
Saudades Gonzaga.
Casarões suspensos,
Vigas de madeira,
Até hoje não sei porque.
Mas era bonito,
Chão batido no chão.
Casarão suspenso no ar.
Saudades da minha infância.
Pela rua brincava.
Minha mãe cozinhava.
Naquela época não tinha preocupação.
Eu não corria perigo não.
Bem, corria, mas era outra coisa.
Não era sequestro, nem ladrão.
Perigava estourar a cara,
Pedalando feito louco descendo ladeira.
Perigava pegar verme,
Brincando na lamaceira.
Sem falar dos morrinhos,
Que teimava escalar.
Ah se mamãe soubesse,
Quantas vezes temi me esborrachar.
Saudades da minha Lajinha.
Choro, choro de saudades.
Saudades da Igrejinha,
No alto da pedra.
Ah se mamãe soubesse.
Meu nome tá lá.
Amigos de infância,
Que nunca pude visitar.
Mas estão no meu coração,
Assim como outros que virão.
Mas hoje não falo do futuro.
Saudoso do meu passado.
Saudades Gonzaga,
E só para ser singelo,
Saudadezinha
Da minha Lajinha.
(Alexandre Lima de Barros - 23/07/2004 - BH - 14:02
Escutando Luiz Gonzaga).