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sexta-feira, maio 19, 2006

A Cronica que Agora Escrevi

- Boa noite "seu" Ivaí.
Seu Ivaí é um porteiro, de uma rua que morei. Seu Ivaí, como muitos outros é um desses porteiros que habitam a entrada de nossos prédios, nossa cidade.
Imagino esses camaradas, zeladores de nossa segurança, a maioria deles muito educados, ali sentados em suas portarias.
Calma, deixa eu explicar o porque desse assunto. Em minhas muitas andanças pela cidade - coisa de quem não tinha dinheiro para gastar com taxi nem paciência para andar de ônibus - adquiri o hábito de cumprimentar os porteiros e outros habitantes da noite.
Nem sei como são suas vidas, mas sempre os imagino ali, no meio da noite, solitários.

Pare e pense, você, no meio da noite. Aquelas nobres senhoras que atormentam nossos ouvidos nos elevadores e corredores com assuntos de total "desimportância"1 já foram dormir, não vão mais ocupar os porteiros em longas conversas. Enquanto isso, seus filhos e netos ainda não chegaram com seus carros da balada - carros que eles, os porteriros, nunca terão.

Pensou? Agora pense que você, na posição desse porteiro, deve ficar acordado, em um cubículo escuro, com uma pequena TV preto-e-branco. Ninguém para conversar, nada para falar, nada para distrair.

Pois é! É por isso que eu os cumprimento. Não que eu já inicie com grandes cumprimentos; no início é mais como um levantar de sombrancelhas, depois um aceno de cabeça, para finalmente um aceno de mão e um largo: "- Boa Noite!"
Então eu os cumprimento. Um pequeno intervalo na noite enfadonha. Um pequeno divertimento, para que eles pensem: "Coitado desse menino, andando solitário por essa noite sem graça".

E será que não é isso?


Belo Horizonte, 18/05/2006 - 22:10.

1. Pessoalmente adoro longas conversas com muitos desses velhinhos, mas normalmente não nos corredores, principalmente quando estamos morrendo de pressa.

Um comentário:

  1. HEHEHE, fantástico, simplesmente fantástico.
    Adorava essas conversas informais, descompromissadas, mas agora...
    Não sei o que se passa comigo (será que não sei mesmo)...
    Bom... deixa para lá.
    Tenho que voltar a certos hábitos a muito esquecidos, não quero ja chegar num momentos que não tem volta, o tempo passa, mas a gente não precisa.

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